domingo, 26 de abril de 2009

VI - ELEANORA


As idéias giravam no meu cérebro sem cessar, não conseguiria dormir, optei por tomar um banho e descer para estirar as pernas, Fui até o bar do hotel e pedi um pingado (café com leite) e um bauru. Enquanto saboreava o sanduíche vi uma bela moça, aparentando cerca de 30 anos, na varanda olhando para as flores que salpicavam com cores o verde do jardim. Fiquei observando-a até que desapareceu por entre as plantas que enfeitavam o pátio do hotel. Imaginei que ela seria uma das colaboradoras do Constantino. Nossa! Seria bem legal viajar em companhia de uma gata daquelas. Resolvi montar um cavalo e dar um passeio pelos arredores do hotel; cavalguei pela trilha maior até o seu final. Mais à frente, uma trilha menor seguia até umas rochas próximas a um aglomerado de árvores e, instintivamente, galopei para lá. Voltaria logo para o hotel, pois não queria passar por outro constrangimento de chegar atrasado para mais um compromisso: o jantar.

Ao chegar nas rochas, apeei do cavalo e amarrei suas rédeas em uma pequena árvore. Andei por alguns minutos e ouvi barulho de água do outro lado da trilha, próximo a mata. Mais à frente avistei uma pequena cachoeira que desaguava num córrego cristalino. Tudo era, realmente, muito bonito. Abaixei-me, bebi um pouco daquela água pura e ao levantar a cabeça senti o meu corpo estremecer: ela estava lá, estirada nas pedras completamente nua; os cabelos castanhos, longos e levemente encaracolados envolviam parte de seus ombros; a pele bronzeada com gotas de água brilhando ao sol deixava-a ainda mais bela. Meu Deus! Prendi a respiração e fiquei parado com medo de, algum ruído, estragar aquele momento. Não sei por quantos minutos fiquei ali admirando-a até que uma voz trouxe-me de volta à realidade:

- Pode pegar as minha roupas? Estão do seu lado.

Uma tremedeira dos diabos tomou conta do meu corpo ao ouvi-la; olhei à minha volta e vi suas roupas penduradas em um galho: peguei-as e caminhei lentamente em direção à ela. Estiquei o braço para entregá-las e, em vão, procurei não olhar diretamente para aquele monumento. Pegou a roupa com um ar malicioso, se vestiu e ficou a me observar por alguns instantes.

- Você é da expedição? - perguntou demonstrando pouco interesse.

- Sim, vou documentar tudo. Sou jornalista e você?

- Historiadora Eleanora Canúh e estou aqui há alguns dias, cheguei antes de vocês.

- É, o Dr. Constantino comentou que você e a arqueóloga estariam aqui. Meu nome é Montezuma e confesso que fiquei surpreso, não é sempre que se cruza com uma sereia, disse eu com ar abobalhado.

- Está na hora de voltar para o hotel, vai ficar aí parado?

- Bem que eu gostaria, mas temos compromisso para o jantar... não é?

Chegamos ao hotel e cada um foi para o seu aposento. Eu estava ansioso por um banho, mas ainda maravilhado com a visão da Eleanora. Cerrado, encostado em sua cama, assistia a televisão. Comentei:

- Antônio, saí para cavalgar e encontrei uma pequena cachoeira, mas você não imagina quem estava lá!

- Imagino sim, meu caro amigo. Pela sua cara você só pode ter visto Eleanora, nua e linda, após o mergulho, estirada como uma sereia nas pedras.

- Você também esteve lá? - perguntei embasbacado.

- Não companheiro, mas sei que ela é apaixonada por água e esta é a sua maneira peculiar de se relacionar com a natureza.

- Então você a conhece?

- Claro, foi dessa mesma maneira que a conheci e me apaixonei por essa bela mulher - lembrou o sertanista.

- Então vocês...

- Não, não! Tudo é passado, caminho livre, amigo - disse acrescentando: Ela te pediu as roupas?

- Sim. Por quê?

- Você entregou as roupas a ela? - perguntou Cerrado com ar zombeteiro.

- Sim! Por quê? - respondi sem entender o questionamento dele.

- Prá um jornalista, você é bastante ingênuo. Ela te deu um sinal e você não entendeu nada. Não sei se terá outra chance ... ela é muito temperamental - comentou.

- Não fala sério..., não é Cerrado?

- Veja bem Montezuma, se ela não tivesse simpatizado com você teria te expulsado de lá. Eleanora traz sempre consigo, uma arma para se proteger. Ao te pedir as roupas, ela o autorizou a aproximar-se. Dançou, amigo, mas teremos outras cachoeiras pelo caminho.

Me dirigi ao banheiro pensando no que disse o Cerrado. Após o banho perguntei:

- Você não vai descer para jantar com o pessoal?

- Sim, vou, também, matar a saudade da Eleanora - respondeu o sertanista.
Aprendi a gostar do meu companheiro Cerrado, mas a superioridade que ele impunha quando falava da Eleanora me deixava irritado. Parecia que eu estava sempre um passo atrás dele.

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