sexta-feira, 15 de maio de 2009

VII - O CRIME



Quando entrei no restaurante do hotel, o clima estava tenso: todos estavam reunidos, com excessão do físico americano Bob Carlson. Cerrado já se encontrava entre eles. Fiquei, por alguns instantes, observando e pude notar que estavam agitados. Felipo andava de lá para cá, enquanto que Constantino passava, com frequência, a mão pela cabeça. Resolvi saber o que de tão grave estava acontecendo e perguntei:

- Ei! O que está acontecendo?

- Bob Carlson morreu... parece que deu uma fugida pra cidade, e foi vítima de assaltantes - disse, com ar triste, o sertanista.

- Caramba! Como pode? Em plena luz do dia...resmunguei assustado.

- De acordo com a polícia, o Bob deve ter reagido ao assalto. Os bandidos não levaram nada, nem dinheiro, celular ou relógio, estranho, não? Acho que tem ligação com nossa viagem e como apenas nós sabemos sobre ela, é bom, meu amigo, dormir-mos com um olho bem aberto - advertiu Cerrado.

- Já disse isso aos outros? - perguntei.

- Está louco? Aqui não sabemos quem é o lobo e quem é o cordeiro... só preveni a Eleanora e agora estou alertando você - disse apertando os olhos.

- Por que confia em mim?

- Acho que pelos seus antigos sapatos e pela mancada que deu com a Eleanora. Você não tem perfil de bandido - zombou Cerrado.

- As vezes sei ser mau - respondi com ar irônico.

- É... você é mesmo assustador! Vamos esperar notícias, enquanto jantamos - disse sorrindo, o sertanista.

- Jantar? Depois de uma tragédia dessas? Não tenho estômago! - falei sentindo uma certa repugnância por tudo aquilo.

- Problema seu. Não consigo dispensar uma costelinha de porco - brincou Cerrado.

- Com essa morte, será que nossa viagem chegou ao seu final? - indaguei.

- Depende da polícia e da perícia, por enquanto tudo segue como o planejado - respondeu ele.
Após alguns minutos, resolvi que jantaria e me dirigi para o restaurante do hotel. No imenso salão só estavam Eleanora e Cerrado que, animadamente, conversavam como se nada tivesse acontecido. Ela respondeu ao meu cumprimento, mas sem dar-me atenção. Parecia que os dois tinham muita coisa para por em dia. Eleanora estava mais linda do que nunca: vestia um vestido verde escuro que deixava à mostra seus seios fartos, os cabelos longos e soltos caiam em cascata pelos ombros de pele morena.
Fiquei ali olhando-a até que uma voz fez-me voltar a realidade:

- Assim que puderem venham para a sala de reunião, precisamos conversar - pediu nosso contratante.

Terminamos o jantar e em seguida fomos ao encontro de Constantino que nos informou que a viagem continuaria como programado e, apenas, não passaríamos por Barra do Garças, seguiríamos direto para a Serra do Roncador. A viagem seria de helicóptero. Constantino recebeu os agentes de polícia e deu todas as informações necessárias. Assim, ficamos isentos e nem precisamos ser ouvidos por eles. Após a conversa com os policiais, Constantino apresentou-nos à arqueóloga, Norma Mattos: muito bonita mas sisuda e de pouca conversa; sua pele era clara e os cabelos bem louros, dando para notar que eram tingidos; aparentava entre 30 e 35 anos, o corpo bem feito e um pouco mais de 1,70 de altura.

O dia foi exaustivo, pedi licença e subi para o quarto: tentaria dormir. Confesso que as suspeitas do Cerrado me deixaram apavorado e não me agradava nem um pouco a possibilidade de ir para o meio da selva com um assassino. Por outro lado, nada indicava que essa morte tivesse algo a ver com nossa expedição.

A noite foi longa, não conseguia dormir, mas quando começou a amanhecer, vencido pelo cansaço, tentei me convencer de que tudo não passava de imaginação do Cerrado, ou que, na pior das hipóteses, o que ele queria era me assustar. Acabei adormecendo.

Na hora marcada, Constantino já nos esperava no heliporto. Seria mais um dia cansativo, pois eu havia conseguido dormir cerca de meia hora. Disfarçadamente, me aproximei dele e tentei arrancar alguma informação:

- Como faremos agora sem o físico? Ele era muito importante para a expedição? - perguntei.

- Como era! Em determinado ponto do nosso trajeto, suas informações seriam muito úteis - afirmou Constantino.

- É um portal, não é, Dr. Constantino? Um portal para outra dimensão ou plano... e o senhor tem as provas da existência dele! - Constantino continuou calado me observando e continuei: não são apenas alucinações de um milionário excêntrico!

- É um homem muito esperto sr. Montezuma, mas não falemos sobre isso, por favor, até chegarmos ao local - pediu fazendo um gesto com as mãos como se estivesse cansado de tudo aquilo.

- Só mais uma coisa, por favor: a morte de Bob tem ligação com tudo isso, não é? - insisti.

- Tudo indica que sim, agora... quem é o responsável... não tenho como saber - respondeu mostrando preocupação.

- A polícia... como ela nos liberou? - quis saber.

- Foi necessário que eu utilizasse a minha influência. Quando voltarmos eles já terão descoberto o assassino - respondeu o velho, com o cansaço estampado no rosto.

- E se for um de nós? - voltei a perguntar.

- Pouco provável, entretanto é um risco que teremos que correr - disse ele apontando para o helicóptero que já estava pronto para decolar.

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