sexta-feira, 15 de maio de 2009

VIII - SERRA DO RONCADOR



O helicóptero pousou em uma clareira a cerca de dez quilômetros da Serra do Roncador. Enquanto descarregávamos nossos equipamentos, em minha mente era agitada por um turbilhão de idéias aflitas. Logo em seguida, o helicóptero levantou vôo deixando-nos completamente a sós no meio daquela mata que era muito bonita mas, assustadora. O silêncio era tão grande que podíamos ouvir um ruído por mais baixo que fosse. Olhamos a nossa volta e não víamos outra coisa a não ser mato. Logo começaria a escurecer e tudo ficaria mais terrível ainda. Nossa! Não via a hora de voltar para a cidade e poder usufruir de todo aquele dinheiro que me esperava.
Cerrado pediu-nos que aproximássemos e informou:

- Por hoje acamparemos aqui, portanto, montem suas barracas e vamos preparar algo para comer. Mais tarde o Dr. Constantino fará algumas revelações a vocês.

Norma caminhou alguns passos e com os olhos firmes no céu nos alertou:

- Estão ouvindo isso? Parece que o helicóptero está voltando! Olhem!... já se pode ver!

- Não é o nosso! Esse é outro helicóptero e parece que vai pousar próximo daqui - inteirou o biólogo Sérgio Azevedo que, até então, pouco falava.

- Isso não é bom! - emendou Cerrado - vamos ficar atentos e com as armas ao alcance. Temos que nos manter unidos e não se afastem do acampamento.

Pelo semblante preocupado dava para perceber que o sertanista farejava encrenca no ar. Então me dirigi a ele:

- O que tem, amigo?

- Antes de iniciarmos a expedição já perdemos um homem, não quero perder mais ninguém.

Felipo nos interrompeu gritando em italiano:

- Lasciare un caldo caffè!

- Em boa hora! - comentou Eleanora se dirigindo para a pequena fogueira.

- Não é bom que apaguemos o fogo? - perguntei a Antônio Cerrado.

- Deixemos que saibam nossa localização. Se houver um confronto é melhor que seja logo; em todo o caso, se vierem atrás de nós, só nos alcançarão amanhã. Vou preparar uma boa recepção para eles - afirmou.

Eleanora se aproximou e, com um belo sorriso, ofereceu-me uma caneca de café. Sorvi alguns goles e olhando para ela disse:

- Sabe Eleanora, começo a questionar se valeu, realmente, a pena aceitar este trabalho... estou pressentindo muitos problemas pela frente.

- Claro que valeu, Montezuma! Não percebe como está escrevendo? É muito bonito ver você escrever: seu rosto assume feições diversas... vejo você transpirar prazer.

- Sério? Pensei que não fosse mais se dirigir a mim!

- Só não sou pegajosa: se estou a fim converso, do contrário ignoro.

- Meio egoísta sua visão de relacionamento.

- Não sou hipócrita, apenas isso.

- Você é linda, mas também muito complicada. Me apavora a idéia de me apaixonar por você.

- É bom que não se apaixone; se pintar clima a gente faz amor, mas por pura atração sexual, sem sentimentos envolvidos.

- Não, obrigado. Eu passo, vamos deixar as migalhas para os famintos.

- Pretensioso, quem disse que eu transaria com você? Volte a se distrair com o seu computador - disse se afastando zangada.

Cerrado nos observava e cochichou em meus ouvidos:

- Parabéns Montezuma, você conseguiu deixá-la irritada. Geralmente, ela não se irrita com os homens, apenas os ignora. Você parece ser especial, mexe com ela.

Parece que a sereia, finalmente, foi fisgada - brincou ele.

- Que morra com o anzol na boca! Não quero nem papo com essa bruxa!

- Xiii... será que você também se apaixonou?

- Não me perturba Cerrado, vai procurar o que fazer.

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