domingo, 19 de julho de 2009
XVIII – O PARAÍSO
Acordei sobre uma relva fina e verde que se estendia ao longe feito um tapete. Olhei em minha volta e vi um grande lago e, mais para o horizonte, montanhas e colinas. Flores e borboletas davam ar de inocência à paisagem, enquanto aves belíssimas enfeitavam o céu e as margens do lago. À minha esquerda iniciava-se uma floresta de mata fechada, era uma paisagem muito diferente das que eu estava acostumado a ver nos últimos dias. Tudo era muito limpo, as cores se combinavam e as gramíneas tinham tamanho uniforme. Parecia que tudo aquilo era cuidado por um exímio jardineiro. O lago era límpido e azul; o sol, apesar do brilho intenso, não alterava a temperatura que era bastante agradável. Gamos e gazelas saíram da floresta e se dirigiram para o lago para saciar a sede. Ao olhar para mais longe, senti uma alegria muito grande, lá estavam eles: Cerrado, Eleanora e Constantino sentados em uma pedra observavam, em silêncio, a paisagem daquele lugar.
Caminhei lentamente em direção a eles. A pressa e a impaciência não combinavam com o que nos rodeava, tudo era paz!
- Que lugar lindo! - disse ao me aproximar dos meus companheiros.
- O paraíso deve ser desse jeito - reforçou Constantino - um lugar sem mácula e sem pecado.
Cerrado puxou o chapéu sobre os olhos e estirou-se na pedra parecendo querer tirar um cochilo; olhei para o relógio e ele estava parado, a câmera digital também não funcionava, insisti com o notebook sem nada conseguir. Nesse instante, olhei para o lado e um terror tomou conta de mim: um casal de tigre caminhava lentamente em nossa direção, acompanhado por dois filhotes.
- Cerrado, Cerrado... tigres estão vindo para cá - falei baixinho para que os animais não me escutassem.
- Não enche Monte... preciso cochilar um pouco... na América do Sul não existem tigres - disse Cerrado meio sonolento.
- Então... não estamos na América do Sul, também uma família de leões está vindo para cá.... - gemeu Constantino.
- Cerrado, levanta... a coisa está feia! - pediu Eleanora.
- Vocês não podem me ver sossegado... Ah! Meu Deus! Leões, tigres! Não se mexam! - disse Cerrado ao perceber que seus amigos tinham razão, os animais estavam ali bem perto deles.
Os enormes felinos passaram por nós sem nos molestar. Dirigiram-se às margens do lago, com a cabeça direcionada ao seu centro. Muitos outros animais foram chegando e se colocando na mesma posição que estavam os felinos. Aquilo era intrigante, parecia uma grande convenção de animais. Ali, estavam eles, centenas de presas e predadores: ursos, onças, pássaros de grande porte, capivaras e tantos outros, sem o menor traço de agressividade. A paz era total.
Nesse instante, uma luz multicolorida desceu do céu em direção ao centro do lago. Ao aproximar-se da água, foi adquirindo uma tonalidade de predominância azulada. Seu clarão foi crescendo e se expandindo para os lados até fundirem-se com aquela horda de animais. Deu para notar que a luz os penetrou como se levasse a energia da água para saciar sua sede.
- Acho que acabamos de descobrir como se mata a sede neste lugar, viram? É muito parecido com o que foi relatado na carta - falei acrescentando: sendo assim, acredito que não há porque temer esses bichos.
- Calma aí, Monte. Devagar! Não confie em tudo que lê. Eu vou ficar aqui, bem quietinho, até que essa bicharada vá embora... - retrucou Cerrado.
Antes que Cerrado terminasse suas considerações, o casal de tigres com seus filhotes, parou bem à nossa frente e ficou a observar-nos. Aquela luz desceu, novamente do céu, parando sobre nossas cabeças, e foi adquirindo tamanho até explodir e lançar-se em partes até a direção da família de tigres, que satisfeita seguiu seu rumo mata a dentro.
- Acho que acabamos de ser devorados, de uma forma virtual ou espiritual, é claro! - brinquei.
- Isso é inacreditável! - exclamou Constantino - Nem mesmo em nome da subsistência precisam matar! Inacreditável e maravilhoso! Pelo que pudemos presenciar, basta que olhemos para o que desejamos e o alimento nos vem em forma de luz, de energia!
- É, pode ser. Porém, eu ainda prefiro um belo pernil bem assado, e sentir a barriga cheia de satisfação. - retruquei.
Eleanora se mostrando preocupada interrompeu-me:
- Temos que tomar cuidado, não conhecemos as leis deste lugar. Então, é importante que não matemos nenhum ser deste paraíso.
- Com certeza, princesa - assentiu Cerrado - já está em tempo de nos contatar com os habitantes desse lugar.
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Estou adorando e sonhando com esse paraíso. Vai Beto ... Estou curiosa!!!!
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