domingo, 19 de julho de 2009

XVI - O DESPERTAR



Acordei e vi que Cerrado já havia cuidado dos ferimentos de todos e, naquele instante, ele e Eleanora cuidavam de Constantino que, embora em estado febril, não tinha mais a aparência de um defunto. Tive a impressão de ouvir barulho de água descendo pelas pedras da galeria, agucei os sentidos e pude sentir o cheiro de terra molhada, então eu, com medo de despertar de um sonho perguntei:

- Cerrado que barulho é esse? Estou sonhando ou é alucinação?

- Veja! Passa um riacho pela galeria e forma uma lagoa. Encontrei locas cheias de bagres albinos com carnes saborosas. Coma, você precisa se alimentar e se esforçar para caminhar um pouco - falou Cerrado em tom paternal, estendendo-me um peixe espetado em sua faca.

Com as mãos tremendo, peguei o peixe e comi sem me incomodar com os espinhos que teimavam em espetar as minhas gengivas. Após saciar minha fome, bebi da água do riacho; era tão limpa que dava para enxergar cada pedrinha que compunha o seu leito. Aquele era um momento de uma magia inexplicável. Uma sensação de felicidade tomou conta de mim. Olhei para meus companheiros e pude ver que cada um sentia a mesma coisa.

Dois dias depois estávamos recuperados, inclusive Constantino embora sua reabilitação fosse mais lenta. Reiniciamos a caminhada. Do outro lado da galeria, entramos na outra etapa do buraco, mas dessa vez ele era maior e não exigia tanto esforço do nosso físico. Durou algumas horas essa caminhada até que deparamos com um portal de pedras que emitia luzes de todas cores e sua vibração era tão intensa que gerava sons incríveis.

Assustados e ao mesmo tempo perplexos e maravilhados, olhávamos para as luzes que, de tão forte, fazia doer nossos olhos.

- Meu Deus! É tudo verdade! - esclamei com medo que tudo aquilo desaparecesse de um instante para outro. Não pude registrar, por fotografias, a beleza do portal, a intensidade das luzes não permitia.

O Constantino seguiu um sonho e agora o encontrava, dando-nos a oportunidade de vivenciar tão mágico momento. Se não fosse excêntrico e teimoso, teríamos perdido tão belo registro em nossas mentes. Sei que é difícil acreditar que alguém tenha passado por aquele portal e tenha chegado a um lugar onde ninguém pode alcançá-lo e do qual retornam mensagens que julgamos, por descrença, desconexas e sem sentido.

- Valeu a pena acreditar - disse Constantino com a voz ainda fraca.

- Vamos atravessar, não percamos tempo! - pediu Eleanora.

- Espera aí, pessoal! Vocês lembram o que dizia a carta? Isso vai doer! Dá um tempo para que a gente se prepare espiritualmente. Isso foi comparado, na carta, com redemoinho que esmaga a gente. - falei preocupado.

- O Montezuma tem razão - ouvi aliviado o sertanista socorrer-me - o Dr. Constantino tem que se reabilitar e, até mesmo nós, estamos ainda fracos. Ficaremos aqui, amanhã a gente atravessa.

Fiquem com óculos escuros, não sabemos o que essa luz pode causar aos nossos olhos. Vamos nos alimentar e descansar, também quero que evitem falar muito, porque o ar rarefeito daqui pode nos causar sensações ainda mais desagradáveis. Vou tentar dormir um pouco.

Tudo o que eu havia visto, nas últimas horas, invadia o meu pensamento sem cessar. Retomei as escritas que haviam sido esquecidas por alguns dias e com os dedos ágeis registrei os acontecimentos. O que encontraríamos por trás daquele portal? Os artesãos? Seríamos bem recebidos ou estariam à nossa espera inimigos e monstros? Ainda poderíamos encontrar a morte numa fonte abissal de luz e energia. Com todos esses pensamentos, adormeci. O dia seguinte traria mais novidades.

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