domingo, 19 de julho de 2009

XV - O TUNEL




Finalmente, chegamos à boca do túnel. Decidimos descansar e fazer refeição antes de iniciar a entrada. Cerrado deslizava os dedos por entre os cabelos lisos, demonstrando preocupação com Constantino; não falava com ninguém e de sua testa gotejava suor. Todos sabíamos que o melhor seria não entrarmos naquele buraco estreito. Estávamos caminhando rumo ao desconhecido e isso nos deixava com muito medo. Entretanto, o espírito aventureiro nos empurrava cada vez mais para dentro do túnel.

- Ainda podemos desistir - lembrou Cerrado olhando para cada um de nós e não obtendo resposta perguntou:

- Todos concordam em entrar?

- Eu sinto necessidade de ir até o fim. Garanto a todos que se encontrarmos esse portal, morrerei feliz - disse Constantino com um sorriso que parecia concordar com tudo que pudesse acontecer dali prá a frente, ou seja: estávamos nas mãos do destino.

- Quero continuar! Chegamos até aqui, não? Sem dizer que, entre entrar neste buraco e enfrentar aqueles bandidos, não temos muita escolha - disse eu.

- Também vou - disse Eleonora, sem comentário.

Horas mais tarde estávamos com capacetes equipados com lanternas, com roupas resistentes aos atritos nas paredes do túnel e máscara para filtragem do ar. Amarramos uma corda de cintura em cintura, e seguimos rumo ao mistério. Cerrado ia à frente, logo depois Constantino,
Eleanora e, por último, eu.

Não há muito o que narrar nesses dois dias de tatu vividos por nós. Tivemos várias crises durante o percurso. Não tínhamos como ficar em pé; às vezes, parecia que não voltaríamos a ver o sol ou sentir o ar fresco da natureza; todos queriam um bom banho e uma alimentação decente. Estávamos ali rastejando sem saber se encontraríamos uma passagem que nos tirasse daquele buraco.

Constantino, após umas quatro horas, teve uma crise respiratória; logo depois, Eleanora entrou em pânico e foi difícil para todos convencê-la de que logo estaríamos fora daquele lugar, pois todos nós tínhamos o mesmo sentimento: terror!

As paradas constantes para descanso, a paciência de Cerrado com Constantino e Eleanora me deixavam muito irritado. Mas, o que fazer? Tinha que ser assim, não podíamos ter pressa.
Às vezes apareciam cobras, escorpiões, aranhas, mas, éramos instruídos a não incomodá-las. Assim, lentamente, caminhamos escutando nossas próprias vozes repetindo queixas angustiantes das horas passadas ali.

Depois de 50 horas que mais pareciam milhares delas, chegamos à galeria; nossas pernas estavam adormecidas, não conseguíamos ficar em pé; as cãibras e a dor muscular eram tão intensas que senti náusea. Até mesmo o Cerrado, que estava habituado às aventuras, passou mal. Estávamos tão esgotados que até respirar exigia muito das nossas forças. Lembro-me que arrastamos Constantino por algum tempo; ele parecia estar morto. Bem no final do túnel, não resistimos ao sono e dormimos... dormimos muito.

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