terça-feira, 30 de junho de 2009

XIII - A FUGA



Caminhamos, em mata fechada, por mais ou menos duas horas. O silêncio reinava entre nós; estávamos tensos e cansados; os últimos acontecimentos nos deixaram abalados, o som de nossos próprios passos nos incomodava. Estávamos absorvidos em nossos pensamentos, quando nos pareceu ter ouvido vozes. Instintivamente, encolhemo-nos e fizemos o mais absoluto silêncio.

Os bandidos, talvez por acreditarem que ainda estávamos no acampamento, não tinham a mesma preocupação. Ao passarem por nós, pudemos ver o poder de suas armas: metralhadoras, fuzis e pistolas automáticas. Eram um grupo de cinco homens, muito bem armado. Não poderíamos encará-los, Cerrado, mais uma vez estava com a razão. Um deles, talvez o líder, disse aos seus comparsas:

- A partir de agora, calem-se. Devemos estar a umas duas horas do acampamento deles e não sabemos se o italiano e a Norma conseguiram dominá-los. Conheço o tal Antônio Cerrado, ele é o cão. Conhece isto aqui como a palma da mão.

Neste momento, olhei para o sertanista como se buscasse uma orientação; ele tinha a testa franzida e olhava para o homem que orientava os bandidos como se o conhecesse de algum lugar. Esperamos que se distanciassem e seguimos em direção oposta. Quase sussurrando, Cerrado nos disse:

- Conseguimos! Agora teremos muitas horas de vantagem sobre eles. Já estão exaustos, carregando aquele peso todo por mais de quatorze horas e, quando descobrirem o que fizemos, o desânimo cuidará do resto. Com certeza absoluta, não terão como reiniciar a caminhada imediatamente. Agora quero que vocês apertem bem as botas, bolhas nos pés podem fazer com que percam os pés.

O carinho com que Eleanora tratava Constantino parecia devolver-lhe o ânimo e seus passos, agora, eram mais firmes, seu semblante estava mais iluminado e o vermelho voltava aos poucos ao seu rosto. Imaginei que, apesar de milionário, deveria ser um homem solitário, com relações pautadas apenas por bases materiais: presentes prá lá, presentes prá cá, e poucos abraços apertados e beijos carinhosos. Estar ao lado de uma mulher que lhe tratava como uma filha carinhosa e cheia de cuidados, fazia bem a ele. Com isso, o minha admiração por Eleanora, aumentou. Mas, aquele homem ainda nos surpreenderia; para mim o principal segredo ainda estava para ser revelado e isso me incomodava. Voltei-me para o Cerrado e indaguei:

- Você conhece o líder deles, não é?

- Sim. João Vicente é um mau caráter, explora índios, contrabandeia pedras preciosas e já esteve envolvido com trafico e exploração de mulheres. É um rato procurado pela polícia, é um assassino muito perigoso e totalmente sem escrúpulos.
Eleanora continuava mais atrás, dando toda a atenção a Constantino e às vezes trocavam algumas palavras. Após umas quatro horas de caminhada, Cerrado interrompeu orientando-nos:

- Vamos parar por meia hora, comam alguma coisa, mas nada que utilize fogo. Não deixem lixos na mata porque, além de prejudicar o meio ambiente, podem denunciar nossa trilha para os bandidos. Mais umas trinta horas de caminhada e deveremos alcançar o túnel. Caso não encontrem pistas de nossa passagem por aqui, é possível que deduzam que fomos para o grande cristal que fica na serra, ou para uma lagoa que ali existe.

- É verdade - reforçou Eleanora - eles devem imaginar que procuramos os lugares que são considerados místicos.

- Sim, um cristal que os índios utilizavam como espelho... - ia contando quando se intrometeu Constantino dizendo:

- E uma lagoa de água cristalina que dizem ser um portal.

- Exatamente, isso fará com que ganhemos mais tempo ainda. O túnel é desconhecido e, também, protegido por uma vastidão de arbustos. Acredito que nem João Vicente deve conhecê-lo - disse Cerrado.

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