sábado, 20 de junho de 2009

XI – A DECISÃO



Passando as mãos pelos cabelos, sorri ironicamente:

- Que absurdo! Não acredito que estamos aqui por esse motivo! Está claro que tudo isso foi escrito por excesso de sentimento ou um desvio mórbido da razão, com uma lógica, que afasta a pessoa cada vez mais da realidade!

- Vejo de outra forma - interrompeu Eleanora - as letras são firmes e bem escritas, afastemos, pois, a hipótese de delírio. E tem mais, o Jeremiah não era merecedor da confiança depositada nele: leu a carta, sabia o valor do instrumento e, sem pensar em mais nada, correu para a América do Norte para vendê-lo e fazer uso do dinheiro em seu próprio benefício. Além disso, nem se deu ao trabalho de destruir a carta, simplesmente a enfiou dentro do violão.

- Pode ser que não - defendeu Norma - ele pode ter sido atacado por ladrões e ter escondido a carta dentro do instrumento para, mais tarde, recuperá-la e entregá-la ao reverendo.
Foi aí que o Cerrado, verdadeiramente, me surpreendeu ao revelar sua opinião.

- Também acredito em sua teoria, Norma - disse Cerrado acrescentando - e vou mais além: não temos o direito de seguir viagem, vamos destruir a carta e deixar o paraíso em paz. Façamos o que foi pedido ao reverendo. Não creio que a natureza aprove a continuidade dessa expedição.
De súbito, parecendo desesperado, Constantino interrompeu gritando feito louco:

- Eu já paguei a metade para vocês! Vamos seguir viagem!

- Por mim devolvo tostão por tostão, doutor Constantino. E quanto a você Montezuma? - perguntou o sertanista olhando para mim em busca de cumplicidade.

- Devolver a grana? Não tem jeito amigo, sinto muito. Se for esta a condição, eu continuo. Temos que lembrar que, se isso for verdadeiro, verei minhas publicações ladeadas pelas de Júlio Verne e de Artur Conan Doile. Sinto mesmo, mas eu preciso da fama e do dinheiro - respondi explicando.
Olhei para todos para sentir o que cada um pensava daquilo, mas sem conseguir desvendar seus semblantes, então arrisquei uma pergunta para Eleanora:

- E você, Eleanora, o que pensa fazer?

- Sou uma historiadora e..., se a narrativa da carta for real, a humanidade não pode ser privada dessa descoberta - respondeu passando a vez para a Norma.

Estou com você, é uma grande descoberta! - respondeu Norma.

O biólogo levantou-se, sorriu e emendou:

- Alimentar-se de luz, ter o poder de transformação, vidas sem cadeias alimentar... é um novo conceito de biologia, não posso ficar fora. Eu vou! E você Martinelli?

- Embora eu esteja com muito medo de atravessar esse túnel, eu continuo - respondeu o músico.
Constantino, com ar vitorioso, virou-se para Cerrado e questionou:

- Está sozinho, Cerrado, e agora? Quero lembrar que precisamos de você!

- Vocês não terão chance sem mim, sou obrigado a continuar, até mesmo para impedir que destruam a única coisa perfeita da qual já ouvi falar. Agora, antes que escureça, vamos nos preparar para receber aqueles nossos visitantes. Quem estiver armado fique com a arma ao alcance das mãos. De agora em diante nos revezaremos na vigia, em turno de duas horas. Primeiro, Eleanora; segundo, Montezuma; terceiro, Martinelli; quarto, Azevedo; eu fico por último que é perto da hora que, provavelmente, estarão se aproximando. Aproveitem para se banhar, comer e esticar as pernas, pois teremos que dormir cedo.


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