domingo, 9 de agosto de 2009

XXII - CONSELHOS DO ANCIÃO-REI




Eleanora, Constantino e Cerrado divertiam-se jogando cartas, enquanto eu tinha o pensamento invadido por um turbilhão de dúvidas. Subitamente o pânico tomou conta de mim: havia algo errado, aquilo tudo não podia estar acontecendo e a naturalidade com que meus companheiros recebiam aquela situação era, para mim, assustadora. Interrompi a diversão dos três dizendo:

- Está tudo errado! Isso tudo deve ser imaginação ou algum tipo de alucinação. Vejam bem, estamos no Centro Oeste brasileiro, não estamos na África, nem na Ásia, portanto aqui não existe tigres, leões ou elefantes. E, ainda, sem mencionar que esses animais se comunicam conosco e que estamos nos alimentando de energia, de luz...

- Pare com isso, Monte - cortou Eleanora.

- Isso é uma insanidade! Estou convencido de que se trata de uma alucinação - insisti.

- Tá bom, Montezuma, alucinação coletiva. Todos nós estamos tendo a mesma alucinação! O que você está afirmando, Monte, é tão absurdo quanto o que estamos vivendo - comparou Cerrado.

- Mas, não estou dizendo que todo mundo está tendo a mesma alucinação. Vocês é que estão fazendo parte dos meus delírios, como se fossem personagens. Entendem?

- Cuidado para não ficar maluco, meu jovem. Tente não pensar muito - advertiu Constantino, acrescentando carinhosamente:

- Vamos analisar da seguinte forma, meu filho: se for alucinação, a pior parte dela já passou; a perseguição nas matas, as mortes, a traição daqueles dois, tudo ficou para trás. Agora estamos num mundo maravilhoso e mágico. Estamos vivendo experiências que, talvez, nenhum ser humano jamais viverá. A porta do desconhecido se abriu para nós, dando passagem para uma aventura repleta de surpresas e tornando realidade nossos sonhos mais pueris com bichos falantes, reis, magia e a beleza das paisagens com sua explosão de cores. Não vamos renegar o que ainda existe de criança em nós. Lembra que, em São Paulo, você me perguntou se eu os estava convidando para brincar de Indiana Jones?

- Sim - respondi.

- Pois vou além! Vamos brincar de Peter Pan, de príncipes e princesas, de cavaleiros medievais e de exploradores de mundos desconhecidos. Enfim, permitamo-nos brincar de crianças e, assim, a alucinação se transformará em um belo sonho - disse Constantino emocionado.

- Você é o escritor, Monte, relate essa sua alucinação, se é isso que acredita. Pode ter certeza de que será uma bela história - pediu Eleanora.

- Faça o que ela está dizendo, Monte - reforçou Constantino.

- É... eu acho que vocês têm razão... - resolvi resignar-me com a situação.

Tenho mesmo essa tendência inconformista de questionar tudo e todos. Nunca fui um cara apegado ao que não é palpável; muitos me acham cético demais. Essa minha insistência em reclamar já estava se tornando um hábito desagradável e eu não queria isso. "Afinal de contas, do que eu tanto reclamava? Dias atrás eu não tinha nem onde cair morto e, agora, tinha uma garota linda e apaixonada por mim e, quando voltar pro mundo real, vou ter muita grana prá gastar" - pensei - "rapaz! vou torcer para que eles tenham razão... se tudo isso for verdade..."

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